A Literatura de “baratos”, de Alcides Mello, reúne as duas pontas de um novelo aparentemente desatadas. Ressurge de suas produções – uma espécie de diário ilustrado -, uma galeria de animais “animados” que contam histórias cuja “lógica”, ao mesmo tempo em que tende à insensatez de um mundo fabuloso, remete ao absurdo do mundo considerado real. Alegoricamente representados desde a Idade Média por meio de compilações conhecidas como bestiarius, os animais “animados” de Alcides Mello são recriados para ressignificar sentimentos e valores morais de caráter universal. A surpresa, no entanto, está na linguagem e na produção de imagens que, além das próprias ilustrações, brotam incessante e vertiginosamente dos animais-personagens que esbanjam capacidade fabular, na mesma medida em que conquistam a simpatia do leitor- espectador de estórias impossíveis. O recurso narrativo mais evidente lembra a técnica de fluxo da consciência, com uma pitada de ineditismo e de bom-humor, uma vez que, esse tipo de produção também visa à “curtição”, ou seja, o prazer de conhecer os animais “animados” e de se divertir com eles. A articulação entre texto e imagem, segundo seu criador, ocorrem instantaneamente e sempre se apresentam mesclando realidades distintas, como por exemplo: céu/inferno, elementos da natureza/criações humanas, cultura popular/cultura erudita entre outros contrários.